Tuesday, December 26, 2006

Thursday, December 14, 2006

Beta choque




Temos o grato prazer de anunciar que este 'blogue', na senda do progresso e do futuro, sofreu um OPA - nem foi propriamente amigável, nem abertamente hostil - e aproveitou para se privatizar, acompanhando os inevitáveis ventos da história que o neoliberalismo abençoa. Juntando isto a um choque tecnológico do tipo Beta, estamos em condições de entrar na gloriosa competição de audiências que avassala a blogosfera. Nada saberá como dantes.

Monday, December 11, 2006

Sunday, October 22, 2006

Terapia de grupo

"Hoje não é um bom dia para perceber como isto funciona. Sempre que há futebol, são poucos os doentes. Devia ter vindo a uma segunda-feira..."

Público 22/10/2006

Tuesday, October 10, 2006

Será verdade?

"Cavaco visita prostitutas, sem-abrigo e voluntários de Lisboa"

(diário digital, 10 de Outubro de 2006)

Thursday, August 24, 2006

Σωκράτη

Θεό... Θεό... Θεό... Θεό δε σε λένε
Κεριά... κεριά... κεριά... κεριά δε σου καίνε
Αλλά τα λό... τα λό... τα λό... τα λόγια σου καίνε
Κι ακό... ακό... ακό... ακόμα τα λένε
Σωκράτη εσύ σουπερστάρ

Αγνός και καλός, ο πρώτος Χριστός
Σωκράτη εσύ σουπερστάρ
Με κάπα ζητιάνου γυρνούσες
Και στ' άσπρα σου γένια πουλιά

Τριγύρω λαός, κι εσύ άγιο φως
Σωκράτη εσύ σουπερστάρ
Για αγάπη και φως τους μιλούσες
Σοφέ των σοφών βασιλιά

Θεό... Θεό... Θεό... Θεό δε σε λένε
Κεριά... κεριά... κεριά... κεριά δε σου καίνε
Αλλά τα λό... τα λό... τα λό... τα λόγια σου καίνε
Κι ακό... ακό... ακό... ακόμα τα λένε
Σωκράτη εσύ σουπερστάρ

Θεό... Θεό... Θεό... Θεό δε σε λένε
Κεριά... κεριά... κεριά... κεριά δε σου καίνε
Αλλά τα λό... τα λό... τα λό... τα λόγια σου καίνε
Κι ακό... ακό... ακό... ακόμα τα λένε
Σωκράτη εσύ σουπερστάρ... σουπερστάρ... σουπερστάρ

Πιλάτος λαός, σου πήρε το φως
Σωκράτη εσύ σουπερστάρ
Κι η Αθήνα που τόσο αγαπούσες
Φαρμάκι σου δίνει πικρό

Πικρή χαραυγή, ορφάνευε η γη
Σωκράτη εσύ σουπερστάρ
Την ώρα που εσύ ξεκινούσες
Να βρεις τον αιώνιο Θεό

Θεό... Θεό... Θεό... Θεό δε σε λένε
Κεριά... κεριά... κεριά... κεριά δε σου καίνε
Αλλά τα λό... τα λό... τα λό... τα λόγια σου καίνε
Κι ακό... ακό... ακό... ακόμα τα λένε
Σωκράτη εσύ σουπερστάρ

Θεό... Θεό... Θεό... Θεό δε σε λένε
Κεριά... κεριά... κεριά... κεριά δε σου καίνε
Αλλά τα λό... τα λό... τα λό... τα λόγια σου καίνε
Κι ακό... ακό... ακό... ακόμα τα λένε
Σωκράτη εσύ σουπερστάρ... σουπερστάρ... σουπερστάρ


Σώτια Τσώτου

Tuesday, June 06, 2006

Por um partido político para a defesa dos tumores

- D. Yolanda, chamei-a aqui para a informar que tem um tumor no cérebro.
- Oh! Doutor! E é grave?
- Como tudo na vida depende do ponto de vista.
- Então o Doutor quer dizer que é benigno!?
- Bom. Seria pouco ético estar a tecer considerações sobre a bondade do tumor. Como sabe devemos manter-nos equidistantes e preservar a nossa independência em relação a tudo o que possa constranger a correcção dos nossos procedimentos.
- Não entendo Doutor. A minha vida está em perigo?
- Eu não queria ser muito literal porque certamente, mais tarde ou mais cedo, serei prejudicado quando me citar fora do contexto em que estou a produzir estas afirmações.
- O Doutor preocupa-me...
- Por quem é, não precisa de se preocupar comigo, D. Yolanda. A sua qualidade de minha paciente atribuída aleatoriamente pelos computadores do serviço nacional de saúde, é para mim um ponto de honra uma vez que foram as virtudes do acaso que nos juntaram neste momento histórico.
- Comove-me a sua dedicação...
- Analisando a sua questão sobre a 'gravidade' do tumor no cérebro eu penso que deveríamos chegar a um acordo sobre o conceito de 'gravidade' que vamos, neste caso concreto, partilhar. O que é que significaria para si ser grave?
- Porra, Doutor! Quero saber se vou morrer com isto!
- ...
- Peço desculpa...
- Eu compreendo a sua exaltação. Não é todos os dias que nos dão assim notícias que nos tornam uma situação excepcional. Devo entender que se preocupa com a morte...
- Claro, Doutor. Sou jovem. Tinha um futuro à minha frente...
- Em primeiro lugar quero que perceba que não sou eu o responsável por você ter essa coisa dentro da cabeça.
- Sim, eu sei... ninguém é responsável.
- Gostaria que compreendesse que do meu ponto de vista muito pessoal o seu caso não é grave.
- Não?!
- Se você fosse uma doente minha de catálogo, daquelas que chegam à minha procura de maneira activa e empenhada e procuram os meus serviços personalizados, eu até consideraria o seu caso como uma grande sorte para mim.
- Oh, Doutor...
- Mas não foi assim. Não há em si uma vontade explícita de ser minha doente. Chegou a mim por acaso. Não é provável que se entregue confiadamente nas minhas mãos. Depois de mim irá a correr procurar uma segunda e uma terceira opinião até que algum dos meus doutos colegas consiga tocar na corda da sua sensibilidade e determinar a sua crença.
- Eu estou a confiar em si. Só quero saber o meu destino.
- A D. Yolanda não consegue perceber que está na presença de um profissional. Eu não sou um amador. Faço umas horas aqui no hospital mas a minha vida não acaba aqui. Eu não posso considerar o seu caso grave quando ele tem o potencial de aumentar a minha conta bancária. Mas percebo que para si pode ser grave porque vai fazer baixar a sua.
- ...
- Do ponto de vista social é mais ou menos indiferente, apesar de a palavra tumor ser muito complexa, difícil e dolorosa, tem conotações à esquerda, traz alguma revolução, provoca alguma complexificação da coisa social. Mesmo assim é pouco relevante.
- ...
- Já do ponto de vista biológico é uma coisa do domínio do bem. Os tumores são uma espécie minoritária apesar de terem algum relevo social. Antes não se dava conta deles, estavam dentro dos sistemas socialmente aceites. O tumor era uma causa natural de morte. O que não é o mesmo que morrer atropelado por um eléctrico, ou como a morte química ou bioquímica ou radioactiva.
- Acha então que eu vou morrer?!
- Além da questão discriminatória. A perturbação das espécies. Um tumor é um objecto que tem em vista a diversidade biológica e por isso tem que ser preservado. Nesta minha faceta de funcionário público não liberal não vou querer tratar disso. Mas no meu consultório tenho que velar para que a ciência progrida.
- Vou morrer...
- Os concidadãos vão muito solidariamente pagar para tratar o seu tumor. Um tumor é um propriedade pessoal e portanto não deveria ter-se a preocupação de responsabilizar a solidariedade social com o seu problema. Como seu concidadão também não estou minimamente interessado em participar, ainda que modestamente, na resolução de um problema que é seu. A não ser que quisesse que a tratasse particularmente. Sem recibo. Sem provas. Eu não me posso envolver numa situação que me ultrapassa. Eu poderia ter-me dedicado à política. Poderia ser um autarca. Aí sim, a minha função seria preocupar-me com os problemas dos cidadãos.
- Vou morrer...
- Como médico estou preocupado com as variantes que vão florindo da natureza. Não tenho estrutura de açambarcamento moral. Interessa-me muito o ponto de vista do tumor. Uma forma de vida que deveríamos adequadamente proteger. Como médico sinto que o tumor tem muito mais a dizer-me, é muito mais atraente, do que a pessoa que o transporta.
- Já não tenho esperança...
- A D. Yolanda há-de reparar que há milhares de pessoas preocupadas com a vida de pessoas como a senhora. Agora diga-me: e os tumores? Quem se preocupa com os tumores? Que culpa têm os tumores para serem rejeitados por todos sem lhe darem sequer a oportunidade de se defenderem?
- Eu morro...
- Haverá um dia, D. Yolanda, em que os tumores hão-de mostrar a sua força e a sua importância. As pessoas vão perceber que têm estado a ser egoístas, que remeteram os tumores para um gueto e lhes retiraram direitos. É uma questão de tempo. A biodiversidade dos tumores, a ecologia dos tumores, os tumores como minoria marginal à sociedade. Incompreendidos, rejeitados, sem direitos, ...
- Adeus, Doutor.
- Isso, vai-te embora louca intolerante! Nunca perceberás. Esta gente é tão limitada que não enxerga os verdadeiros valores da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Como é que há gente que consegue ser tão insensível com os pobres dos tumores...


Lino Centelha

(ocorreu-me este diálogo ao saber que se tinha formado na Holanda um partido para legalizar a pedofilia, a pornografia infantil e a zoofilia...)

Sunday, April 09, 2006

Escritor rameloso

Zerozerossete and the blockbuster mountain

O agente secreto ao serviço de Sua Majestade, recentemente convertido aos apelos democráticos da República, colocou-se à disposição do novo inquilino do palácio cor-de-rosa, receoso de perder o lugar de funcionário público arduamente conseguido, para resolver, de uma vez por todas, e como missão ultra-secreta, o caso das escutas telefónicas em envelopes de correio azul. No início as coisas nunca correm muito bem mas a experiência internacional de um agente que até já tivera uma aventura no espaço, há-de resolver todos os percalços mantendo sempre a compostura do fato e do rosto e o ar de impenetrável emoção que tanto apraz ao seu novo patrono que até preferia o MacGyver. A necessidade de proceder a investigações em pleno Chiado constitui o risco imediato. Num lugar em que qualquer homem é um alvo em movimento tornou-se claro que só se vive duas vezes e se na primeira o segredo estava nas Blond Girls, desta vez a força da razão estaria nos Blond Boys. A investigação é dura, o meio está cheio de 'oh pás!' hostis e Blond, James Blond, sente que para ter sucesso nesta operação tentacular - sem as habituais octopussies - vai ter que dar o litro e integrar-se no meio, agir de maneira aberta e confrontar cada sentido com uma nova realidade. O andar da carruagem não parece muito propício e o Presidente começa a perder a paciência, mostrando-o através da ingestão nervosa de grande número de pastéis de nata. Os jornais anunciam que o ministro deu ordem para matar. Blond, James Blond, tem que reavaliar o seu plano. Equaciona a hipótese de ir ao estrangeiro fazer uma operação relâmpago. Mas os Boys, Blond Boys, de que se destaca Ary, reúnem-se no Príncipe Real a reclamar, e o governo desmente os jornais, garantindo que apenas existe licença para matar - e não ordem - desde que se reúnam os requisitos mínimos inscritos nas trezentas e trinta e três medidas do simplex. O herói volta à estrada e sente que poderá recuperar a confiança do Presidente se conseguir pôr o seu GoldenEye contra GoldFinger. No Chiado as cotações crescem e desde a Brasileira até ao café da Fnac já todos o consideram um agente irresistível. Mas em todo o lado cresce a inveja, a suspeita e a maledicência. As forças subterrâneas, equipadas de telemóveis de terceira geração com câmaras de dois megapixels e vibra-call tridimensional, fazem a cama ao agente ao serviço do Presidente. Blanka dirige as operações transgénicas. No blogue do É bruto aparecem referências indesmentíveis a uma reunião em que o Presidente terá dito a Blond, "vive e deixa morrer". Tudo indica que Blond, James Blond, terá sido incluído nos cem mil portugueses com direito a receber o anti-viral contra a gripe das águias. A comunidade estrangeira em Portugal reúne-se de emergência para reivindicar o direito ao anti-viral uma vez que todas as estatísticas garantem que o país já teria parado se eles cá não estivessem. Blond, James Blond, fica assim na charneira de um delicado problema diplomático com ramificações em países geralmente bem comportados nestas coisas dos direitos humanos como o Canadá, o Brasil e a Ucrânia. É neste momento que o carácter internacionalista do nosso agente vem ao de cima. O suspense é dado pela grande questão que nesta altura da acção dilacera o espectador: estará Blond, James Blond, em condições de enfrentar o homem da pistola dourada? Aqui existe uma dúvida que deve ser colocada aos promotores do filme: se a intenção é fazer uma sequela esta é a ocasião porque ou o amanhã nunca morre ou morre noutro dia. Segundo a prospecção de mercado os espectadores ficariam mais satisfeitos com perseguições vertiginosas pela rua Garrett acima e alguns eléctricos descontrolados a atravessar o Luís de Camões. Na cena da decisão enquanto Blanka discute com Blond, James Blond, se os diamantes são eternos ou não - Blond acha que sim, Blanka mais pragmática diz que são eternos enquanto duram - entra na sala Ary, armado até aos dentes, dizendo a Blanka que o mundo não chega para os dois. Blanka parece indefesa vestida apenas com uma minúscula cueca. Blond, James Blond, parece indeciso entre as paixões antigas e as mais recentes e não consegue mexer-se no seu fato às riscas muito engomado. Ary sente-se senhor da situação. Blanka num movimento ágil de mulher moderna que lê a Cosmopolitan, tira rapidamente o pequeno penso higiénico diário do interior da minúscula cueca. De facto não é só um penso higiénico. É também um telemóvel com UTMS de banda larga. Mas não é só um telemóvel é também muitas outras coisas. Mas o que interessa para aqui é que é também uma sofisticada metralhadora de alta definição. É com ela que Blanka aponta e mata Ary. Blond, James Blond, fica chocado - mas não surpreendido - com a quantidade de sangue que Ary tinha de reserva. Num primeiro momento Blond treme de angústia. Num instante vê que só lhe resta um caminho para salvar a reputação. Lança-se aos pés de Blanka que dobra o seu telemóvel fumegante e diz-lhe: casa Blanka, casa comigo. Blanka olha para ele com carinho e diz-lhe: casar não digo querido, mas juntamo-nos... pelo menos até a lei mudar...


[Este guião foi feito no intuito, suponho eu, patriótico, de dar à mão-de-obra nacional - chamemos-lhe assim - trabalho qualificado de representação cinematográfica, colocá-lo na senda das grandes questões do nosso tempo, e criar a hipótese, nada remota, de um filme português poder pela primeira vez ganhar o Oscar para o melhor filme estrangeiro e acumular, pela primeira vez também, os Oscares de melhor actor e melhor actriz para a mesma personagem.]


Lino Centelha

Monday, February 13, 2006

Mania do Chulé


Na sequência de uma visita meramente cultural ao Chulé na Meia aconteceu-me uma espécie de choque humanístico - em oposição a um choque tecnológico - que certamente num desvio às leis do essencial e do acessório me tocaram de perturbação e ansiedade.

Andava eu já preocupado por esta assimetria moral que faz com que noventa e nove vírgula nove por cento dos 'blogueres' tenham sido desafiados a revelarem as suas manias e nem um se tenha lembrado de mim quando, por acaso - e neste caso o acaso também se pode dizer puro - me defrontei com o drama do Chulé.
Verdade seja dita que mesmo que alguém me encadeasse na lista dos reveladores de manias eu não me teria dado ao trabalho de o fazer pelas seguintes razões: primeiro porque as minhas manias são inconfessáveis; segundo porque se não fossem inconfessáveis não seria manias; terceiro porque aquilo que eu eventualmente fosse capaz de confessar deixaria nesse instante de ser uma mania para passar a ser uma coisa de que, ainda que inconfessadamente me orgulhava.
O que me chocou no Chulé na Meia, e devo dizê-lo sem inibições, foi terem revelado publicamente a identidade de alguém que no anonimato tinha revelado uma mania inconfessável com o propósito muito sublime de saber se a sua mania se podia inscrever numa certa ordem, se não natural, pelo menos corrente e comum.
Ainda que até hoje tenha tido múltiplas e confirmadas razões para não acreditar na minha intuição, não pude deixar de intuir que na cabeça do Chulé se terá desenvolvido uma, digamos assim, necessidade extrema de partilhar uma pulsão interior que resulta de um conflito de opiniões entre a sua cabeça pensante e o seu húmus existencial.
Vamos por partes. Entre as minhas manias inconfessáveis não se encontra a mania do Chulé. Mas partilho com ele a necessidade orgânica e erótica de falar e esperar que algo ou alguém me ouça. E adicionado a isto tenho o hábito assaz esgotante de olhar para as coisas do maior número de pontos de vista possíveis.
Tenho para mim que a chave do mistério está na frase que, impossibilitado que estou se mostrar aqui a sua expressão sonora, transcrevo com a necessária limitação da palavra escrita: "Falo com o meu pénis". Reparem nas variantes que podem ser daqui retiradas e que, numa interpretação que dada a limitação do 'blogger' não pode ser exaustiva, conduzem a leituras muito diversas das intenções do Chulé ou, mais pragmaticamente, das intenções do seu subconsciente.
A leitura primeira identifica o Chulé como alguém que fala, que conversa, que se confessa ao seu próprio pénis. Reparem na questão redundante que tal leitura levanta. O pénis do Chulé está fartinho de saber o que o Chulé quer! A ser esta a leitura correcta estaríamos perante um caso de abuso de liberdade de imprensa dentro do campo restrito do indivíduo. Claro que esta não é a minha leitura.
A segunda leitura, perfeitamente viável, seria a transcrição de uma ideia anti-castrante que tentaria relacionar a masculinidade fálica com o pénis recolhido e, por consequência, afastar os medos da autoridade com jogos do género "falo com o meu pénis", "pénis com o meu falo", "falo como meu pénis", "pénis como meu falo", etc. Estas expressões que como já demonstrei podem dar origem a excelentes poesias 'rap' e conseguem-se assistindo com regularidade a programas de televisão codificados.
Muitas outras leituras haveria a que se poderia dar um enquadramento psico-físico elaborado como por exemplo "falo com o meu pé" em que se omite o 'nis' de uma maneira muito acessível ao Chulé.
Mas vou passar essa multidão de possibilidades para me centrar naquela que me parece a mais defensável e que, pelo seu sentido simbólico, melhor se adequa ao carácter etéreo do Chulé.
Há muitas situações em que um hífen faz a diferença. Todos conhecemos casos, pessoais ou não, em que o hífen resolveu com simplicidade problemas que pareciam complicados. Por vezes as sinapses apressadas trocam o hífen pelo hímen. A minha teoria é a de que, Chulé, num momento particularmente tenso da sua relação com Letícia, e vendo que as coisas não avançavam devido a um pormenor que nitidamente lhe escapava terá dito no ardor da refrega, "fá-lo com o meu pénis" num português impecável em que apenas se esqueceu do hífen.

Lino Centelha

Monday, January 02, 2006

Gogolplex

Continuo sem saber porque começa o ano assim, de maneira abrupta, sem dizer água-vai, indiferente, obscuro, assim num dia que não corresponde a nada, apenas por convenção, por pura convenção.

Tinha-te dito ontem, certamente ainda tocado pelos excessos naturais da época, que havia de descobrir a razão de o ano começar agora, precisamente agora e não noutra data - e eu arranjaria uma boa centena de datas muito mais apropriadas do que esta - noutro dia do ano em que mesmo uma pura convenção fizesse mais sentido.

A minha intenção era recorrer à ciência, à boa ciência e à má ciência, porque nascer o ano precisamente agora não há-de ser por uma boa razão, por uma razão de boa ciência. A minha intenção era ir à procura até encontrar, e dei-me generosamente um ano para tão grande empreendimento. Fica portanto a saber, quem quiser, que a minha intenção era pesquisar a razão de o ano começar aqui e agora, a razão desta pura convenção que nos faz cantar, deitar foguetes e brindar.

Seria portanto este ano mais um ano de pesquisa. Mais um ano de procura de razões para que o ano seja agora.

Disseram-me entretanto que não preciso de procurar muito. Que em segundos, na sociedade do conhecimento e companhia limitada, é possível descobrir tudo o que se quiser. Fiquei a saber que está na rede a resposta àquilo que procuro. Procure o que procurar está lá.

Foi este então o meu trabalho desta noite. Descobrir que não vale a pena procurar. Aquilo que eu quero saber está aqui ao alcance de um click, mesmo debaixo dos meus dedos.

O potencial deixou-me atónito. Tudo o que eu quiser está aqui. Num instante. Sem esforço, sem tempo, sem espaço, sem distância, sem penitência, sem medo. Tudo.

O meu saber agora é todo. O meu saber agora é a rede. E o meu saber é comum a todos. Bem... em potencial pelo menos. Hão-de deixar cair de pára-quedas computadores portáteis em todas as regiões remotas do mundo para que possamos todos, mesmo todos, estar assim na rede.

Não sei como dizê-lo mas abandono aqui o meu projecto. Sei que o que quero saber está mesmo aqui à mão e portanto é como se já soubesse. Apenas um click. É consoladora esta certeza. Não preciso de mais nada que a rede.

Estou feliz. Já nem me lembro do que é que queria saber...


Lino Centelha