Continuo sem saber porque começa o ano assim, de maneira abrupta, sem dizer água-vai, indiferente, obscuro, assim num dia que não corresponde a nada, apenas por convenção, por pura convenção.
Tinha-te dito ontem, certamente ainda tocado pelos excessos naturais da época, que havia de descobrir a razão de o ano começar agora, precisamente agora e não noutra data - e eu arranjaria uma boa centena de datas muito mais apropriadas do que esta - noutro dia do ano em que mesmo uma pura convenção fizesse mais sentido.
A minha intenção era recorrer à ciência, à boa ciência e à má ciência, porque nascer o ano precisamente agora não há-de ser por uma boa razão, por uma razão de boa ciência. A minha intenção era ir à procura até encontrar, e dei-me generosamente um ano para tão grande empreendimento. Fica portanto a saber, quem quiser, que a minha intenção era pesquisar a razão de o ano começar aqui e agora, a razão desta pura convenção que nos faz cantar, deitar foguetes e brindar.
Seria portanto este ano mais um ano de pesquisa. Mais um ano de procura de razões para que o ano seja agora.
Disseram-me entretanto que não preciso de procurar muito. Que em segundos, na sociedade do conhecimento e companhia limitada, é possível descobrir tudo o que se quiser. Fiquei a saber que está na rede a resposta àquilo que procuro. Procure o que procurar está lá.
Foi este então o meu trabalho desta noite. Descobrir que não vale a pena procurar. Aquilo que eu quero saber está aqui ao alcance de um click, mesmo debaixo dos meus dedos.
O potencial deixou-me atónito. Tudo o que eu quiser está aqui. Num instante. Sem esforço, sem tempo, sem espaço, sem distância, sem penitência, sem medo. Tudo.
O meu saber agora é todo. O meu saber agora é a rede. E o meu saber é comum a todos. Bem... em potencial pelo menos. Hão-de deixar cair de pára-quedas computadores portáteis em todas as regiões remotas do mundo para que possamos todos, mesmo todos, estar assim na rede.
Não sei como dizê-lo mas abandono aqui o meu projecto. Sei que o que quero saber está mesmo aqui à mão e portanto é como se já soubesse. Apenas um click. É consoladora esta certeza. Não preciso de mais nada que a rede.
Estou feliz. Já nem me lembro do que é que queria saber...
Lino Centelha
3 comments:
É assim, Lino.
Pesquisar informação é tarefa acessível a todos, a partir de agora.
O problema é saber o que se faz depois quando estivermos de posse de toda a informação. Porque toda é muita. É vista de vários ângulos torna-se mais ainda. Um mundo de mundos.
Depois... depois tens razão, esquecemo-nos do propósito das coisas.
Lino: tenho um desafio no Revelações, aparece :)
Abraço
Sabedores sim, autómatos do conhecimento não!
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