Saturday, November 05, 2005

Rép lido


Passei uma noite inteira

Olhando fixo a Ribeira

Enrolado numa esteira

Mirrado pela tremideira

A procurar a maneira

Zoológica ou certeira

Irada na pasmaceira

Natural da Ericeira

Horizontal à maneira

Ou vertical como queira.


Negociando a certeza

Um paradoxo na mesa

Marcado pela beleza

A chama já muito acesa.


Avanço contra o encanto

Vitimado pelo espanto

Entalado pelo pranto

Naufragado por enquanto

Isto passa, no entanto

Douro a pílula portanto

Ao pensar que sou um santo.


Deu tudo isto para o torto

E eu quase fiquei morto

Cimbalino concentrado

E para sempre acordado

Não tivesse eu almoçado

Tripas à moda do Porto

E um gim tonificado.


Nunca a paixão pelo belo

Usada com tal desvelo

Montar o barco rabelo

Assim como a pôr um selo.


Candidato à solidão

Infiel por convicção

Decidi já sem razão

Adoptar a escravidão

Daquela chamada São

E ficar como seu cão.


De nada valeu o drama

Ela pisou minha chama.


Gaia está entristecida

E hei fel na ponte minha

Nesta São que está esquecida

Tento encontrar a saída

E comer a francesinha.


Lino Centelha


3 comments:

Fausta Paixão said...

Meu caro Lino
Agradeço de todo o coração a nomeação da minha pessoa no teu poema, mas não percebi muito bem a referência ao selo. É para selar a paixão ou o barco rabelo, podes explicar melhor?
O assédio à francesa é que não me caíu lá muito bem!
Deixo-te um abraço faustoso.

Fausta Paixão

mfc said...

A Ribeira é sempre inspiradora!

admin said...

Dona Fausta, há aqui em equívoco. O meu poema, arduamente elaborado, tem origem numa situação para mim traumatizante e reflecte uma alma simples. Não vejo, por isso, onde pode estar V. Exa citada no meu poema, nem as estranhas leituras que dele faz. Além disso o meu nome é Adelino, que simplifico para Lino, e não Carolino como parece ter gosto em chamar-me. Até porque prefiro o arroz agulha. Com os meus respeitos
Lino Centelha