
Passei uma noite inteira
Olhando fixo a Ribeira
Enrolado numa esteira
Mirrado pela tremideira
A procurar a maneira
Zoológica ou certeira
Irada na pasmaceira
Natural da Ericeira
Horizontal à maneira
Ou vertical como queira.
Negociando a certeza
Um paradoxo na mesa
Marcado pela beleza
A chama já muito acesa.
Avanço contra o encanto
Vitimado pelo espanto
Entalado pelo pranto
Naufragado por enquanto
Isto passa, no entanto
Douro a pílula portanto
Ao pensar que sou um santo.
Deu tudo isto para o torto
E eu quase fiquei morto
Cimbalino concentrado
E para sempre acordado
Não tivesse eu almoçado
Tripas à moda do Porto
E um gim tonificado.
Nunca a paixão pelo belo
Usada com tal desvelo
Montar o barco rabelo
Assim como a pôr um selo.
Candidato à solidão
Infiel por convicção
Decidi já sem razão
Adoptar a escravidão
Daquela chamada São
E ficar como seu cão.
De nada valeu o drama
Ela pisou minha chama.
Gaia está entristecida
E hei fel na ponte minha
Nesta São que está esquecida
Tento encontrar a saída
E comer a francesinha.
Lino Centelha
3 comments:
Meu caro Lino
Agradeço de todo o coração a nomeação da minha pessoa no teu poema, mas não percebi muito bem a referência ao selo. É para selar a paixão ou o barco rabelo, podes explicar melhor?
O assédio à francesa é que não me caíu lá muito bem!
Deixo-te um abraço faustoso.
Fausta Paixão
A Ribeira é sempre inspiradora!
Dona Fausta, há aqui em equívoco. O meu poema, arduamente elaborado, tem origem numa situação para mim traumatizante e reflecte uma alma simples. Não vejo, por isso, onde pode estar V. Exa citada no meu poema, nem as estranhas leituras que dele faz. Além disso o meu nome é Adelino, que simplifico para Lino, e não Carolino como parece ter gosto em chamar-me. Até porque prefiro o arroz agulha. Com os meus respeitos
Lino Centelha
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